(à Ulisses Guimarães)
Por águas gélidas insanas
Em suas infladas frias,
As ondas refletem em verso
No despontar da poesia,
Um epitáfio submerso
Que sob a lua reluzia:
Aqui jaz o jargão da semente
Que outrora em palácios se via,
Feneceu a seiva plena
Do arbusto da democracia,
Fulminou-se a derradeira chama
O lume fúlgido da estrela guia.
Quando os sinos se dobraram
Ante o seu vulto esguio no ar,
Sentiste pena do mundo
Que ficaria a bailar,
Agora sem o punho no remo
Deste parlamentar?
Que te disse a maresia
Quando te viste naufragar?
Disseste ela, ao menos
Que vieste pra ficar
Junto às conchas condolentes
Das profundezas do mar?
Temeste essa hora, ó mestre,
Que o ocaso quis te preparar?
Ou sorriste do mundo opulento
Que outrora quis te profanar?
Deixando-o órfão no alento
Sem eira pra se ancorar.
Por quê maculaste a voz sapiente
Que antes cintilava com assas porfia?
A ficar sob a luz da pálpebra vivente
Quiseste por termo em tua biografia
Tornando para história um imortal ausente
Porém, presente na hidrografia.
O destino astuto te consumiu
Perecendo a cátedra da fidalguia,
Restou, entrementes, a indelével chama
Que soergueste com diplomacia,
Deixando à plebe que por ti clama
O punhal perfilado da cidadania.
E lá foi o menino Ulisses
Sob a névoa turva da melancolia,
Nos confins onde agora habitas silente
Outro leme implacável te tornaria,
Pois se porventura plebiscitassem sua gente
Teu nome bradaria com galhardia!