Como um pombo embevecido que loquaz turturina Vou arrulhando alegrias pelas cercanias que passo Sem os grilhões dos vis desejos, o caminho perpasso Me apegando só ao vento que a esmo me destina. Nada levo comigo. Do fugaz acúmulo me desfaço E fitando o horizonte que alentado se aproxima Me dispo de tudo, e com
Se a tela pintada por um artista afamado Pudesse pensar e falar, certamente Não se queixaria de ser continuamente Tocada e retocada por um pincel emplumado. Tampouco invejaria, deste instrumento, a sorte tida Pois saberia que não é ao pincel, mas ao artista Que o conduz, com destreza devocionista, Que deve a beleza de que
Com minha tez ressequida Com meu andar claudicante Com meu aflato ofegante Vou dando passos na vida… Em cada paragem, o pensamento Dentro de mim fumega: Pra onde foi a paixão cega Que dantes era aprisionamento? Perdeu, sem dúvida, o primor Pois, só a essência bosquejo Maturo, hoje posso afirmar Não tenho mais grandes desejos
Quero untar meus lábios aos seus Romper as barreiras intransponíveis do seu pudor Quero aquecer o meu corpo no seu suor E, sequioso, estancar o tempo, feito Zeus. Não deixarei o clarão invadir a janela Que serás só minha até que nasça o dia Quero nesta noite de pura ufania Desfolhar a privança da flor
Doei um sorriso, me enviaram alegria Semeei temperança, a brandura colhi, Ao espalhar a lhaneza, afagos reuni Investindo em mesura, tresdobrou simpatia. Quando ósculos dissipei, a amizade assomou Foi flertando o silêncio que a leveza atraí, Contemplando a beleza, o prodígio senti Compunção externei, e a clemência jorrou. Fustigando a virtude, vi eclodir a nobreza
Como é efêmera a nossa juventude Evapora veloz como a água do cantil, Pouco dura como o amor primaveril À galope é que chega a decrepitude. Procure, portanto, ser preveniente Pra sorver o néctar varonil, Implacável é, pois, a vereda senil Que nos dilata a alma de repente. Nem penses querer deter o amanhã Não
O vigia com mania de nostalgia dizia: Eu sou do norte, sou forte, ói meu porte! Mas não se importe Irmão da madrugada, desnudada, excitada, Que a lua nua é toda sua. Usufrua! Porém, não exagere, não se desespere, prospere. Que a noite é vasta, é casta, isto basta! Ame-a, proclame-a, chame-a De gostosa, formosa,
Rompe-se a autora dolente Nas áureas cores do firmamento, Mansa, lenta e esplendorosa Como dama onipotente, Trazendo a certeza pasmada Da rotina pesada Que volta a renascer. Ao eco dos gargarejos Desperta-se a multidão. Ouve-se o tilintar das xícaras E o aroma típico do desjejum Perfuma o frescor da manhã. Pouco a pouco se emaranha
Descreva do jeito que bem entender Não tema, descreva! Descreva a beleza que trago no olhar Descreva a malícia do meu caminhar, Repare atento meu gesto, meu jeito Diz que sou imperfeito Mas feito de amor, Porém, não te esqueças de acrescentar Que eu também sei sorrir E também sei amar. Descreva meu nome, meu
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