Se a tela pintada por um artista afamado
Pudesse pensar e falar, certamente
Não se queixaria de ser continuamente
Tocada e retocada por um pincel emplumado.
Tampouco invejaria, deste instrumento, a sorte tida
Pois saberia que não é ao pincel, mas ao artista
Que o conduz, com destreza devocionista,
Que deve a beleza de que está revestida.
Não deveis, portanto, oh tu de beleza rara
De formosura esplêndida, que ao céu se compara
Com esmero esculpida e tem o encanto da flor,
Gloriar-se de tua elegância divina,
Porquanto, é veríssimo: esta venusta obra prima
Não é mérito teu, senão de teu Criador.